Curitiba
vive colhendo o que foi plantado na década de 70 e 80. As inovações advindas do
jovem arquiteto Jaime Lerner e sua equipe que souberam ousar, criar e implantar
diversas estruturas que modificaram a cena curitibana e transformaram a capital
paranaense em cidade mundial. Quem for ao Instituto de Planejamento Urbano de
Curitiba - IPUC poderá ver os alfinetes coloridos colocados em um mapa mundi,
cada alfinete daquele representa uma delegação que visitou Curitiba para ver e
aprender com o modelo de Uso do Solo, Transportes e Trânsito pode transformar e
dirigir o crescimento de uma cidade.
Passados
30 anos, tanto o IPUC quanto a URBS (empresa que gerencia os transportes
públicos) parecem ter envelhecidos. As ousadas inovações e transformações
tornaram-se raras e a acomodação parece ter dominado aqueles órgãos de
planejamento e administração e operação. A minha percepção é que a necessidade
de concurso público para o funcionalismo público é uma desgraça para as cidades.
Os concursos públicos, nos moldes como feitos hoje, admitem apenas quem se
prepara para passar em um teste de marcar x, passado no teste, temos um ótimo
concurseiro e um planejador o qual ficará 30 ou mais anos no cargo, deitado em
berço esplêndido, faça ou não diferença para a cidade. Aprovado, o funcionário
terá apenas que dizer amém para o chefe e a vida segue. Que modelo deprimente.
Os
velhos planejadores de Curitiba já não dão mais as cartas, saíram, foram vender
consultoria pelo mundo afora, os que ficaram resignaram-se em suas cadeiras ou
em seus pensamentos de décadas passadas. Falo isso porque a mais de 15 anos
procurei o IPUC para doar um plano de ciclovias via ITDP, na época o distinto
diretor, afilhado político de algum conchavo qualquer e, que nada entendia de
cidades, olhou-me assustado e disse que Curitiba já tinha um sistema
cicloviário.
É,
isso mesmo, Curitiba tinha um sistema cicloviário que não atendia ninguém, mas
tinha. Esse sistema tinha sido feito anos atrás para aproveitar os fundos de
vale onde a antiga Rede Ferroviária tinha desativado o trem. Como o leito da
ferrovia estava lá e conectava alguns parques, a administração municipal
aproveitou o espaço e pavimentou parte do leito, criando assim um sistema
cicloviário que liga nada a lugar algum. Alguns desses segmentos de ferrovia passavam
dentro de favelas e se você passasse por lá de bicicleta poderia sair a pé. O “sistema”
nunca funcionou como sistema cicloviário e nunca funcionará.
Com
o começo dos congestionamentos em Curitiba o IPUC apressou-se em tentar aplacar
a ira dos carrocratas, algo tinha de ser feito e foi. Freneticamente a cidade
passou a adotar binários em todas as avenidas que possuíssem um via paralela
capaz de acomodar o fluxo contrário. Com a política de implantação de binários
dava-se mais um fôlego para prefeitos, IPUCs e URBS das vidas. A cada
crescimento da frota de veículos particulares (figura 1), a cada aumento de
congestionamento tentava-se solucionar o problema aumentando a capacidade
viária. Essa solução funciona até que o sistema fique saturado.
A
busca frenética para acomodar mais carros a qualquer preço é danosa à cidade.
Essa busca seqüestra os espaços públicos (figura 2) destinados aos pedestres ao
consumir parte das calçadas, rouba dos cidadãos a capacidade de se criar
ciclovias pois troca os espaços de estacionamentos por mais uma faixa de
rolamento, envenena a população pois permite que mais e mais carros acessem os espaço
público e despejem toneladas de gases nocivos aos seres vivos e, por fim, não resolve o problema de congestionamento, pelo contrário, alimenta o monstro.
Figura 2 – Retirada do canteiro central da
R. Dr. Pedrosa para criar mais uma faixa de rolamento
Curitiba:
quem planta vias, colhe congestionamentos.