domingo, 14 de agosto de 2011

PUXADINHO DA DÉCADA

O que fazer quando não há área para se abrigar o veículo?

Ocupe a calçada com um puxadinho, tudo certo.

Errado, tudo errado.


CALÇADAS E CABELOS, QUANTO TRABALHO

Assim como as mulheres tentam alisar seus cabelos e evitar cachos mal formados através das famosas “chapinhas”, a sociedade brasileiras um dia, queira Deus, tentará “alisar” suas calçadas. O “alisamento” de nossas calçadas seria a uniformização das dimensões mínimas de largura, padronização de inclinações mínimas e máximas, aplicação de pavimentos ou revestimentos que propiciem a caminhada etc. Assim como os cabelos pós chapinha tendem a voltar a sua forma original, as calçadas para serem alisadas e não voltarem a forma original precisam de um novo pacto social.

Temos sidos educados e conscientizados para o trânsito motorizado, nos ensinam nas escolas o código de trânsito, aparelham-se municípios e estados com uma infraestrutura para financiamento, operação e fiscalização para que o trânsito motorizado possa fluir. Constroem-se ruas, vias, rodovias com larguras mínimas, inclinações máximas que garantam a segurança e fluidez do trânsito, gerenciam a vida útil do pavimento para que se possa recuperá-lo de maneira cada vez mais eficaz, fiscaliza-se o fluxo continuamente para que não haja interrupção, gastam-se recursos consideráveis para que o sistema viário motorizado esteja a disposição de quem deseja usá-lo. A chapinha no sistema viário para o trânsito de veículos motorizados é aplicada constantemente, propiciando um trafegar suave pelas curvas e retas das cidades e estradas.

Por outro lado, a chapinha aplicada nas calçadas brasileiras não tem sido eficaz. Não investimos na conscientização dos benefícios da caminhada, que são muitos e bons para o coração, para a amizade, para a paquera, para o comércio do bairro em que moramos etc. Não criamos padrões mínimos de largura, inclinação, tipo de pavimento, do que pode e, principalmente, do que não pode ficar sobre as calçadas, permitimos que lixeiras, orelhões, postes e todo tipo de obstáculos fiquem eternamente poluindo o ambiente em que transitamos. Estamos tão acostumados com os obstáculos nas calçadas que pouco nos importamos com eles, achamos que eles nasceram ali e não há por que removê-los. Temos sido incapazes de mostrar para a sociedade que o ambiente no qual se caminha deveria ser seguro, limpo e confiável. Estamos anestesiados pela mesmice, pela feiúra a pouca serventia de nossas calçadas, nos sujeitamos a andar pelos bordos das vias como se estas fossem nossas calçadas, nos colocamos em situação de risco como se fosse o normal, enquanto o normal deveria ser a preocupação com o nosso bem estar e de nossos concidadãos.

Pouco nos importamos conosco mesmos quando temos de caminhar. Nos sujeitamos a tropeçar em um buraco que nunca foi tampado, pulamos rampas construídas para que os carros acessem suas garagens, escorregamos em pedras assentadas inadequadamente escolhidas para servirem de pavimento, nos sujeitamos a todas sorte de mal trato e nem assim nos revoltamos, nem reclamamos.

O trabalho para alisar as calçadas vai ser difícil, a caminhada, longa, mas será melhor do que acabar careca.