segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Mi querida Buenos Aires 

 Demorei muito mais do que devia para vir conhecer Buenos Aires, se soubesse que a cidade portenha era o que é, teria vindo muito antes. Caminhar pelas avenidas, ruas e becos admirando a arquitetura dos prédios, o desenho das casas, os sons e odores diversos dos cafés é prazeroso, uma delícia. 

Caminhamos muito, muito mesmo, estávamos hospedados perto da Recoleta e cruzamos as Av. Corrientes e Córdoba nas idas e vindas, chegamos a pé em Porto Madero, Teatro Colón, Café Tortoni, Galerias Pacífico, uhau!!! Pegamos o Subte (metrô) uma única vez para irmos ver o mercado Dorrego, usamos serviços de táxis para as viagens mais longas, como para ir até o Caminito, por exemplo. Os táxis foram nossa salvação quando nossos pés já não nos davam mais trégua. 


Fizemos a parte histórica e turística de Buenos Aires caminhando tanto de dia quanto a noite. Caminhasse com segurança, dificilmente se cruza um quarteirão sozinho e não se encontra com outras pessoas caminhando, não há o que temer, as calçadas são largas e limpas, cheias de pessoas e de vida, nada comparado com o que temos nas atuais cidades brasileiras onde o medo tomou conta das ruas. 




Além da segurança, ou sensação da mesma, outro fator que talvez faça com que haja muitas pessoas caminhando seja a ausência de garagens nos prédios. A grande maioria dos prédios, que são antigos, não tem garagens muito menos porteiros - e viva a segurança!!!. O fato de os prédios não terem garagens obriga aqueles que possuem carros a estacionar em outros lugares e caminhar até suas moradas. Outro fato interessante nesses dias que desfrutei essa cidade foi caminhar e não encontrar nenhum grande supermercado, nenhum. Como em muitos países europeus todos os mercados estão localizados nos andares inferiores dos prédios. Os mercados, mesmo pertencendo as grandes cadeias, são de tamanho modesto e têm cerca de 7 a 9 metros de largura por 40 a 60 de fundos, e tem todos os produtos de que se precisa, um vinho ou uma comida mais refinada podem ser encontrada a poucos metros e outras vendas especializadas. 


 Carrefour no centro de Buenos Aires 


Ao lado da Catedral Metropolitana, antiga casa do antigo Jorge Bergoglio - novo Francisco, quase em frente a Casa Rosada - sede do Governo Argentino, encontra-se um excelente exemplo do que se pode fazer contra a arrogância do espaço destinado aos veículos automotores. A prefeitura de Buenos Aires ao aumentar a calçada proporcionou aos pedestres uma travessia com menos riscos, tornou o ambiente mais amplo, limpo e seguro. A segurança para o pedestre se dá por dois motivos, primeiro ao diminuir a distância de travessia entre dois pontos da rua diminuindo a exposição do pedestre ao risco, o segundo pela diminuição da velocidade dos carros ao contornar a esquina, o aumento da calçada sobre o asfalto (parte amarela do passeio) reduz o raio de giro dos automóveis forçando-os a diminuir suas velocidades. Exemplos como este devem servir como estudos de caso e multiplicados em todas as cidades mundiais. 






Podemos ver alguns esforços pontuais como este nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte e outras que possuem corpo técnico especializado. Em 12 grandes cidades brasileiras pesquisas por mim em por uma discente, verificamos que em apenas 3 cidades existiam órgãos de mobilidade que faziam o planejamento integrado entre trânsito, transporte e pedestres (calçadas). Podemos dizer que na quase absoluta totalidade das cidades brasileiras o planejamento e a gerência do trânsito, transporte, uso do solo e das calçadas são entidades distintas e que se digladiam entre si pois os objetivos de cada uma dessas entidades na se coadunam. 

Apesar dos avanços recentes como o aumento das calçadas, inclusão de ciclovias e construção de um BRT na Av. 9 de Julio, Buenos Aires é marcada pela arrogância do espaço destinado aos carros. A famosa e outrora Av. 9 de Julio, vangloriada como a avenida mais larga do mundo, é a marca de que algo vem acontecendo não só em terras austrais como no resto do mundo. A destinação de 4 faixas exclusivas aos ônibus no centro da avenida mais famosa da capital portenha é um símbolo e um passaporte para a mudança de um modelo socialmente exclusivista para um modelo inclusivo. 


Av. 9 de Julio antes do BRT


Av. 9 de Julio depois do BRT 


Av. 9 de Julio depois do BRT 

Nem tudo esta perdido, mas as cidades brasileiras estão levando uma goleada portenha.