terça-feira, 25 de novembro de 2014

A MALDIÇÃO DOS CONCURSOS PÚBLICOS E A FALTA DE CÉREBROS

Estou em Curitba para o Congresso Nacional de Pesquisa e Ensino em Transporte - ANPET.  Vivi cerca de 10 anos em Curitiba e trabalhei na Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba – COMEC, local onde comecei a trabalhar com transporte público. Na COMEC, no início da década de 90, fizemos o planejamento e implantação do Sistema Metropolitano de Transportes na Região Metropolitana de Curitiba.  

Naquela época, por problemas políticos entre Estado e Prefeitura de Curitiba, a integração físico-tarifária entre os sistemas foi feita de maneira conturbada, ou melhor dizendo, feita na marra. Obviamente o sistema não poderia ser adequado pois não havia sido concebido para suportar as inequidades inerentes de sistemas diferentes.

Naquela época a prefeitura de Curitiba já não possuía criatividade nem vontade suficientes para se manter como inovadora. Quem fazia a transformação era o Estado, capitaneado pela COMEC. Isso ficou claro entre técnicos e usuários do sistema. O metropolitano fazia cerca de 100.000 passageiros e no final do projeto já alcançava 450.000 usuários, muitos desses usuários eram curitibanos que faziam uso do sistema metropolitano quando este adentrava nos limites da cidade de Curitiba.

Fui  embora de Curitiba estudar engenharia dos transportes e nunca mais voltei.  Parece que o mesmo ocorreu com os outros técnicos que outrora fizeram os sistemas urbano e metropolitanos. Na URBS, empresa responsável pelo gerenciamento do sistema de transportes, sobrou apenas um único funcionário que viu e implementou as transformações. A empresa por ser uma empresa pública-privada, tem a necessidade de fazer concursos públicos para preencher vagas técnicas.

Atualmente os técnicos que ocupam postos de responsabilidade a URBS são técnicos concurseiros, aqueles que se preparam para passar em concursos públicos, sem nenhum conhecimento sobre cidades, sobre transportes, não versados em qualquer área que não seja as matérias necessárias para se passar em um misero concurso público que exige apenas o candidato não babe na hora de responder o cartão de respostas.

O esvaziamento das cabeças pensantes em Curitiba, acompanhado pelo preenchimento de suas vagas por concurseiros  treinados, tem mostrado efeitos danosos a essa cidade.

A falta de visão em transportes públicos e a inversão, ainda que não falada em favor do veículos privado, mostram sua face. Nos últimos 20 anos, Curitiba tem plantado a política de favorecimento dos carros através da transformação de suas vias em “Sistemas Binários”, da retirada de estacionamentos de carros no bordo das vias (sem a devida inclusão das ciclovias), do alargamento das vias pela retirada de canteiros centrais,  pelo  incremento de faixas de tráfego pelo estreitamento das antigas  faixas.


Retirada do canteiro central para acomodar mais uma faixa de tráfego em prejuízo a travessia de pedestres.

O resultado dessa política de plantação de facilidades para carros não poderia ter outra colheita que não fosse a do congestionamento generalizado na cidade.

Nesse meio tempo, poderão surgir algumas vozes vociferantes  alegando que a cidade fez a Linha do Trabalhador, a ocupação-apropriação da BR 116 chamada graciosamente de Linha Verde. Nenhuma dessas intervenções em favor do transporte público teria o potencial de diminuição ou mitigação do congestionamento, bom, mas isso é outra história.



segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Prefeituras, prefeituras, prefeituras......



O título poderia ser Governo Federal, Governo Federal, Estado, Estado ..... etc., ficou prefeitura porque efetivamente é quem deve gerenciar as cidades, ou deveria.

Tenho, nesses mais de 20 anos, andado e visitado a trabalho vários entes governamentais. Já estava acostumado a chegar em alguma repartição pública e me deparar com o despreparo quanto ao corpo técnico quanto aos equipamentos etc. Modo geral os equipamentos estão sempre defasados ou simplesmente não há equipamentos, as equipes regra geram, mal treinadas, ou sequer tiveram algum treinamento, mas uma coisa é comum, oconcur memso é o excesso de cargos comissionados, os famosos ASPONES, enfim o famoso me engana que eu gosto,

Lembro-me chegando ao Ministério das Cidades para oferecer apoio financeiro e técnico quanto a questão do Transporte Ativo (caminhada, bicicleta etc.) e me deparar com uma infraestrutura sofrível do Ministério das Cidades, tanto fisicamente quanto tecnicamente. O representante da Fundação que estava doando o recurso disse que nunca havia visto um ministério tão mal instalado (vou usar essa palavra, por ora) quanto aquele.

A visita foi tão decepcionante e a burocracia foi tamanha que desistiram de doar qualquer quantia que fosse. Para se doar tecnologia, capital humano, equipamentos, teríamos que implorar para que os aspones fizessem os papéis (processos) caminharem. Enfim, aquele era o Ministério das Cidades, aquilo que supostamente deveria dar apoio aos entes federados.

A lembrança do incidente no Ministério das Cidades e a falta de comprometimento, tanto de aspones quanto técnicos de carreira, é, em minha opinião, uma das mazelas brasileiras.

Recentemente estive ministrando um treinamento em uma cidade, estávamos indo bem até eu mudar a dinâmica do treinamento. Enquanto era o palestrante falando e os técnicos ouvindo, parecia que a coisa ia bem, mas ao mudarmos o enfoque e passarmos o bastão para que os técnicos assumissem, as coisas começaram a desandar.

Desandaram um pouco antes quando avisei que iríamos trabalhar o modo mais importante da mobilidade urbana. Ao anunciar que iríamos tratar do modo mais importante, e que o modo mais importante era a caminhada. Sim, a caminhada, algo de sinistro ocorreu.

Era como se algo muito ruim tivera acontecido. Um acidente de percurso havia acontecido. Como assim, vamos tratar da caminhada? Vamos sair às ruas para caminhar em conjunto e verificar as condições das calçadas? Vamos caminhar? O que faremos com o sol?

Fiquei chocado com a atitude da equipe. Confesso que foi um golpe. Um golpe violento. Como prosseguir se a equipe encarregada de cuidar da mobilidade urbana enxerga a caminhada como um inimigo? Algo desprezível, como se a caminhada fosse para quem não tivesse outro recurso para se locomover.

Alguns segundos para refazer o raciocínio, respirar fundo e partir para o óbvio lembrar o que não se pode esquecer; que somos seres caminhantes. Apelei. Como algumas das pessoas participantes eram mulheres, perguntei a elas se eram mães, se gostariam de ser, caso não fossem, se fossem, se andavam com seus bebês em seus carrinhos pelo bairro ou pelas redondezas, se conheciam algumas mamães. Contei que fazia feira com Maria, minha filha, e que ia colocando os produtos no carrinho, junto com minha Maria. Ataquei de novo, perguntei se sabiam se alguma idosa conhecida  já havia caido e quebrado algum osso, nisso todas conheciam alguma história. Pedi para que se imaginassem daqui a 20, 30, 40 anos, quando a idade já tivesse chegado, e pedi para que se imaginassem caminhando nessas mesmas calçadas. 

Depois de meia hora de argumentos, contra argumentos, emoções a flor da pele, finalmente admitiam a ideia de pensar nas calçadas. Ainda não sei se resolveram trabalhar em prol da mobilidade, qualquer dia, se souber, eu conto.