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MALDIÇÃO DOS CONCURSOS PÚBLICOS E A FALTA DE CÉREBROS
Estou em Curitba para o Congresso Nacional de Pesquisa e
Ensino em Transporte - ANPET.
Vivi cerca de 10 anos em Curitiba e trabalhei
na Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba – COMEC, local onde comecei
a trabalhar com transporte público. Na COMEC, no início da década de 90, fizemos
o planejamento e implantação do Sistema Metropolitano de Transportes na Região
Metropolitana de Curitiba.
Naquela época, por problemas políticos entre Estado e
Prefeitura de Curitiba, a integração físico-tarifária entre os sistemas foi
feita de maneira conturbada, ou melhor dizendo, feita na marra. Obviamente o
sistema não poderia ser adequado pois não havia sido concebido para suportar as
inequidades inerentes de sistemas diferentes.
Naquela época a prefeitura de Curitiba já não possuía criatividade nem vontade suficientes para se manter como inovadora. Quem fazia a transformação
era o Estado, capitaneado pela COMEC. Isso ficou claro entre técnicos e
usuários do sistema. O metropolitano fazia cerca de 100.000 passageiros e no
final do projeto já alcançava 450.000 usuários, muitos desses usuários eram
curitibanos que faziam uso do sistema metropolitano quando este adentrava nos
limites da cidade de Curitiba.
Fui embora de
Curitiba estudar engenharia dos transportes e nunca mais voltei. Parece que o mesmo ocorreu com os outros
técnicos que outrora fizeram os sistemas urbano e metropolitanos. Na URBS,
empresa responsável pelo gerenciamento do sistema de transportes, sobrou apenas
um único funcionário que viu e implementou as transformações. A empresa por ser
uma empresa pública-privada, tem a necessidade de fazer concursos públicos para
preencher vagas técnicas.
Atualmente os técnicos
que ocupam postos de responsabilidade a URBS são técnicos concurseiros, aqueles
que se preparam para passar em concursos públicos, sem nenhum conhecimento
sobre cidades, sobre transportes, não versados em qualquer área que não seja as
matérias necessárias para se passar em um misero concurso público que exige
apenas o candidato não babe na hora de responder o cartão de respostas.
O esvaziamento das cabeças pensantes em Curitiba, acompanhado
pelo preenchimento de suas vagas por concurseiros treinados, tem mostrado efeitos danosos a essa
cidade.
A falta de visão em transportes públicos e a inversão, ainda
que não falada em favor do veículos privado, mostram sua face. Nos últimos 20 anos, Curitiba tem plantado a política de
favorecimento dos carros através da transformação de suas vias em “Sistemas Binários”,
da retirada de estacionamentos de carros no bordo das vias (sem a devida inclusão das ciclovias), do alargamento das
vias pela retirada de canteiros centrais,
pelo incremento de faixas de
tráfego pelo estreitamento das antigas faixas.
Retirada do canteiro central para acomodar mais uma faixa de
tráfego em prejuízo a travessia de pedestres.
O resultado dessa
política de plantação de facilidades para carros não poderia ter outra colheita
que não fosse a do congestionamento generalizado na cidade.
Nesse meio tempo, poderão surgir algumas vozes vociferantes alegando
que a cidade fez a Linha do Trabalhador, a ocupação-apropriação da BR 116
chamada graciosamente de Linha Verde. Nenhuma dessas intervenções em favor do transporte público teria o
potencial de diminuição ou mitigação do congestionamento, bom, mas isso é outra
história.