domingo, 25 de agosto de 2013

Carro faz mal à saúde - Editorial da Gazeta do Povo

Relatórios da OMS mostram que bons programas de mobilidade podem reduzir mortalidade em até 30%. Nenhum remédio ou terapia para hipertensão ou diabete tem desempenho semelhante
Publicado em 25/08/2013   http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=1402612&tit=Carro-faz-mal-a-saude
O trânsito se tornou um problema de saúde pública. E a recíproca é verdadeira. Por mais truncada que pareça a afirmação, tudo indica que chegou a hora de colocar na mesa os benefícios que os transportes públicos trazem ao bem-estar da população. Não se está falando apenas de ar menos poluído e menos barulho, mas de redução drástica dos índices de hipertensão, obesidade e diabete – que, ao lado dos distúrbios psiquiátricos, são as epidemias do século 21.
A sinalização de que uma coisa tem a ver com outra vem de uma fonte altamente confiável – relatórios da Organização Mundial de Saúde (OMS) recentemente divulgados. E são precisamente 300 documentos, todos ocupados de mostrar a relação íntima entre programas de mobilidade eficientes e vida saudável. Se os indicativos forem levados a sério, como se espera, tudo indica que os gestores urbanos terão mais um bom motivo para aumentar a rede de ciclovias, criar canaletas e arrumar dinheiro para fundar metrôs. A economia para o sistema de saúde seria brutal.
Não se trata de demagogia. São números tinindo de bons. A dizer. Um dos relatórios afirma em alto e bom som que em Copenhague, na Dinamarca, 30% dos usuários de bicicleta têm saúde acima da média. O detalhamento é primoroso. O número que gerou, nem se diga. De acordo com tecnocratas do ramo, são raros os remédios ou terapias capazes de alcançar índices dessa monta. E, caso algum descrente já tenha na ponta da língua que na Dinamarca qualquer um melhora os batimentos cardíacos, um alerta: em outras cidades do mundo, estudos com metodologia semelhante ostentam os mesmos resultados.
As variantes que fecham essa conta são simples demais. E esse pode ser o problema. Os dados da ONU vilipendiam políticas de saúde gastadeiras. E as políticas que se rendem ao mais poderoso dos lobbies, o que vem da indústria farmacêutica. Podem não agradar, afinal são baratas e dependem de práticas de prevenção, assim como de investimentos em mobilidade.
As afirmações chegam a ser ofensivas, de tão óbvias. Quem utiliza ônibus, por exemplo, caminha de 8 a 25 minutos, cumprindo na ida ao trabalho ou à escola o tempo médio de exercícios recomendado pelos médicos. Os ganhos ao sistema cardiovascular encontram ecos na literatura especializada, de modo que não se fala mais nisso. Tomar o coletivo, a lotação, a jardineira é um santo remédio.
Se não for argumento o bastante, que se anote o dado mais estarrecedor fornecido pela organização – 1,2 milhão de pessoas morrem todos os anos em acidentes de trânsito. Tinha de ser um dado estampado nos outdoors, para não deixar esquecer a tragédia bélica em que nos metemos desde que automóvel virou cacho de banana.
Se as pesquisas não deixam dúvidas, resta saber quando e como os setores de mobilidade e os de saúde vão sentar para conversar. Difícil. O Brasil, em particular, tropeça quando o assunto são as trans e multidisciplinaridades. “Não há Cristo”, como diziam os antigos. Vide a dificuldade geral da nação em fazer os observatórios de trânsito – aquele documento unificado que permitiria saber quantas vítimas de acidentes de trânsito morrem nos hospitais. Do jeito que está, ou morre no asfalto ou não é vítima de automóvel. Sem esse acompanhamento de causa e consequência, as estatísticas de que dispomos continuam furadas.
Mais. A partir do momento em que trânsito for declarado assunto de saúde pública, mais e mais os profissionais do jaleco branco vão se envolver no assunto e orientar sua clientela. Sabe-se a demora geral da nação em fazer uma legítima sociologia da saúde. Não entendemos o quanto as unidades e hospitais definem as relações sociais, a convivência, a organização da cidade. Uma pena – nossa ignorância em saúde funciona como prova de que não estamos entendendo nada.
Atualmente moro em Mossoró, RN. Uma das coisas que mais me chamou a atenção com relação ao trânsito em Mossoró foram os acidentes. Que me lembre, havia presenciado 3 acidentes em toda a minha vida, um em Taubaté (década de 80), outro em Curitiba (década de 90) e no Rio de Janeiro (década 00), tudo isto no lapso de tempo de 30 anos. Meu primeiro semestre em Mossoró vi 3, todos na minha frente, juro que queria ter filmado. Ainda pretendo andar com uma filmadora ligada para poder filmar mais acidentes. Semana passada estamos filmando uma avenida para efetuar contagem de tráfego para disciplina de eng. de transportes e os alunos filmaram um acidente envolvendo uma motocicleta.
Até minha vinda para o Nordeste, motos não eram uma questão que eu me preocupava, inclusive tive uma Turuna (honda 125) na década de 80.
Já havia trabalhado no oriente e visto a realidade de países como Indonésia, Vietnã etc., aquela infinidade de motos, achava aquilo longe para a realidade brasileira.. Certa vez estive em um Shopping Center em Jakarta e fique paralisado quando vi que um andar do shopping era somente para o estacionamento de motos, todas de pequena cilindradas, Bizz, cinquentinhas etc.
Me mudo para Mossoró em 2009, me sinto mais para asiático do que americano. Já no primeiro semestre procurei levantar o número de motos na cidade. Pelos dados do Denatran as frotas de carro e moto se equivaliam, suspeitei que o denatran estivesse errado uma vez que não registra as motos cinquetinhas, portanto o numero de motos seria maior que o número de carros.
Em nossas contagens de tráfego temos encontrado uma paridade entre carros e motos, o que bate com os dados oficiais, porém cerca de 25% das motos em circulação na nossa cidade são motos que não foram emplacadas, que provavelmente sejam conduzidas por pessoas sem carteira.
Talvez haja uma relação direta entre este tipo de motos e acidentalidades. Conversando com a polícia estadual do RN, o oficial me relatou que muitos destes acidentes não registram Boletim de Ocorrência por temerem a ação da justiça, visto que muitos deles não tem carteira ou não possuem documentos do veículo –estarrecedor.
Dada estas condições, ou seja, falta de educação para o trânsito, falta de legitimidade,  mais uma engenharia de tráfego que prioriza mais  a fluidez do tráfego em detrimento da segurança, o resultado não poderia ser outro: ACIDENTES. Tem muito mais por trás dos acidentes, mas por hora bastam estas colocações para saber que continuaremos a matar muito mais pessoas no trânsito.
O trabalho de educação nas escolas de engenharia precisa avançar, os conceitos de segurança viária ainda engatinham em nossas cidades. Não temos técnicos treinados em número suficiente para ocupar os órgão de trânsito e transporte. Vamos sofre muito ainda.
Por hora, deixo esta mensagem do Ppotal da UOL do dia de hoje: Número de motos já é maior do que o de carros nos Estados do Norte e do Nordeste, a qual pode ser traduzida como: O número de mortos e sequelados será crescendo no Norte e Nordeste nos próximos anos.


Número de motos já é maior do que o de carros nos Estados do Norte e do Nordeste



Regiões mais pobres do país, Norte e Nordeste viram uma mudança do perfil de sua frota nos últimos anos e, hoje, já têm mais motos do que carros circulando nas ruas. Segundo o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), em 2012 o número de motos nas duas regiões superou o dos carros, diferente do que aconteceu nas demais regiões do país.
No Nordeste, o número de motos e motonetas superou a marca de 5 milhões, contra 4,9 milhões de carros nas ruas. O salto do número de motos é recente –elas praticamente dobraram de quantidade em apenas cinco anos. Em 2008, eram 2,6 milhões de motos e 3,3 milhões de carros.
No Norte, a proporção é ainda maior: 1,6 milhão de motos contra 1,2 milhão de carros. A maior quantidade de motos na região, porém, é um fenômeno menos recente: desde 2008 isso ocorre. Para efeito de comparação, o Estado com maior frota --São Paulo-- tem uma moto para cada 3,1 carros circulando nas ruas. No país, essa média é de 2,1.


Explicação econômica
A explicação para a febre das motos nas duas regiões é econômica. O aumento real do valor do salário mínimo, as facilidades no crédito e até o Bolsa Família explicam a mudança de perfil da frota nas duas regiões mais pobres do país.
"A renda média da população pobre cresceu de forma significativa nos últimos anos, e cresce mais rápido que a das classes A e B", informou a economista Luciana Caetano, citando que as duas regiões são basicamente dominadas por pessoas das classes C, D e E, principais públicos das motos.
"Muitas vezes o proprietário consegue a receita para pagar a parcela com a própria movimentação que tem. É o substituto do cavalo, do jumento, da carroça", disse Caetano.

Acidentes crescem
Com as motos e suas facilidades, as duas regiões passaram a registrar mais mortes no trânsito.  O crescimento no número de óbitos fez o assunto entrar no topo da lista de problemas de saúde pública nas duas regiões, especialmente nas emergências do interior.
Segundo dados do Datasus, do Ministério da Saúde, a região que registrou maior aumento no número de mortes foi o Nordeste. Entre 2006 e 2011, o número absoluto de óbitos saltou de 2.125 mortes para 4.035. Ou seja, por dia, 11 nordestinos morrem por dia em acidentes.
Traduzindo em dados, o crescimento foi de 89%, 30 pontos percentuais a mais que a média nacional do mesmo período, que foi de 59%.
"O número de acidentes é extremamente preocupante. Sem dúvida é uma epidemia. Da quantidade de leitos usados pelo SUS [Sistema Único de Saúde], a grande maioria é para vítimas de acidentes de moto. É um gasto enorme", disse Eloy Yanes, coordenador do Comitê para Redução de Morbimortalidade no Trânsito de Alagoas.
Imprudência
Além de tirar vidas, os acidentes também causam prejuízos aos cofres públicos. Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina do Tráfico, a cada morte, cinco pacientes por acidente de moto são internados em estado grave em um hospital.
Já segundo levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), cada paciente custa, em média, R$ 152 mil aos hospitais, sobrecarregando o serviço público de saúde, especialmente nos Estados pobres.
Para Yanes, muitos condutores não estão verdadeiramente aptos a dirigir motos na região. "O acidente de trânsito não é uma fatalidade, é algo perfeitamente evitável. Ou foi uma falta de boa condução, ou de cuidado, ou imprudência. Mesmo com Lei Seca, aqui temos muitos condutores bebendo e dirigindo", disse.