segunda-feira, 20 de outubro de 2014

O FUTURO JÁ CHEGOU!!! SÓ NÃO NOS AVISARAM


Meu amigo Michel era um francês, poliglota, maestro, músico e empresário, judeu que sobreviveu a matança e chegou ao Brasil. Agradeço imensamente os momentos que estivemos juntos em Curitiba.

Lá, na década de 80, Michel Butnariu, pai de meu amigo homônimo, vizualizava o “car sharing”. Falava com entusiasmo que no futuro não compraríamos carros, que poderíamos simplesmente compartilhá-los. A idéia de Michel era de que voce pagaria uma mensalidade e teria acesso a uma grande quantidade de carros espalhadas pelas cidades, estes carros ficariam estocados em garagens estrategicamente espalhadas pelas cidades. O assinante então iria a uma dessas garagens e pegaria um dos carros estacionados, dirigiria pela cidade e pararia em uma outra garagem qualquer, não necessitando dessa forma comprar um carro.

Vi o sistema de car sharing funcionando em Roma. Aqueles Smarts pintados com o lema CIAO ROMA são o marketing em essência. Carros pequenos, estacionam em qualquer buraco, vão ou brecha, não pagam nas zonas azuis, estão sempre limpos e com tanques cheios (se você abstecê-los, ganha um bônus) enfim, pensado para compartilhar e tirar um pouco de carros privados da rua. Na minha opinião, não resolvem os problemas da mobilidade, apenas minimizam um pouco os congestionamentos e podem reduzir os custos de propriedade sobre automóveis para aqueles que, efetivamente, conhecem os custos incorridos na propriedade dos mesmos.

O funcionamento do CIA ROMA é simples. O associado aproxima seu cartão do leitor colocado no parabrisa, digita o PIN e; abra-te ó sésamo, o carro fica liberado para o assinante. Ai você dirige pela cidade, encontra um estacionamento, põe em ponto morto, chave na posição 0, fecha a porta e, fim, o carro está liberado para o próximo assinante.




Se isso não bastasse, você pode ter um carro elétrico e usar um ponto de abastecimento ou recarga. Os pontos de recarga estão espalhados pela cidade.


Se não bastasse, você pode comprar um bilhete de ônibus e acessar o metrô. O bilhete permite a integração entre os dois modos por 90 minutos.

Voce pode andar de bicicleta, motos, caminhar, tudo feito para facilitar a vida do romano. Na década de 90, quando estive em Roma, só me lembro das Vespas e da bagunça que era o trânsito. Desisti de requerer minha cidadania italiana por achar que aquilo era tão somente o Brasil com dinheiro, acho que errei. O futuro chegou, lá....


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

PASSAGEM SUBTERRÂNEAS PARA PEDESTRES

O Mappin era uma loja que me fascinava, era um mundo, uma só loja com vários andares, diversidade de produtos, coisa chic. Estou falando dos anos 70, quando íamos lá com meu pai e meus irmãos aos sábados.

Como morávamos em Taubaté, 120 km de distância de São Paulo, os sábados eram realmente diferentes, os domingos não. Tudo em São Paulo era diferente, era o moderno, era o que as cidades seriam. São José dos Campos, cidade localizada no Vale do Paraíba, entre São Paulo e Taubaté, tinha um cartaz enorme com a foto da cidade de São Paulo com os seguintes dizeres: SEGUINDO OS PASSOS DO GIGANTE. Tudo acontecia em São Paulo, o que você quisesse achar, se tivesse no Brasil, você acharia em São Paulo. Hoje, com internet, até na Rebimboca da Parafuseta, Cabróbro ou Jucurutu você encontra o que quiser, é só entrar no ebay e voilà.
  
Lembro de que uma vez saímos do Mappin, caminhamos um pouquinho na calçada e começamos a descer umas escadas, era diferente, bonito, o contraste do mármore e do ferro fundido, caminhamos um pouco, subimos alguns degraus e lá estávamos, sãos e salvos, do outro lado da rua. Quis fazer essa travessia algumas vezes mais, o que custou uma bronca, ou um deixa isso para lá garoto.


Passagem de nível para pedestres  - Antiga loja Mappin (http://www.panoramio.com/photo/81624819)

Outra passagem de nível para pedestres que usei em São Paulo foi a da Avenida Consoloção, esquina com a Av. Paulista. Essa passagem eu usava as vezes no começo dos anos 2000 quando queria pegar um ônibus ou simplesmente caminhar. Lembro da galeria, dos sebos, do cheiro de mofo, nada como a antiga passagem do Mappin. O que a idade não faz com a percepção, agora entendo meu pai.

Atravessei algumas vezes a passagem da Consolação para ver se ganhava algum tempo, pois o tempo semafórico era extremamente demorado para pedestres. Depois de algum tempo desisti dessa corrida pelo tempo, os degraus, alguns estreitos demais, eram quase que uma armadilha. A incerteza de se entrar num “tunel” em cidades brasileiras e dar de cara com alguém mau encarado não é animador. Bom, desisti da passagem de nível para pedestres. Não fui só eu quem desistiu, parece que os romano também desistiram.  

Tinhamos visitado o Coliseu e estamos caminhando pelas ruas de Roma, sem destino, apenas procurando uma cantina quanto me deparo com uma dessas famigeradas passagem de nível para pedestres. Tive de parar, observar e tirar uma fotos. Bom, o que observei; níngém, como em São Paulo, vai por baixo da terra, níngém é mais tatu para ficar entrando nos buracos. Não é lógico forçar as pessoas que gastam sua própria energia vencer diferentes gradientes para se chegar ao mesmo ponto no plano. Os italianos, como os paulistanos, preferem ir por cima, sem gastar sua preciosa energia e sem perder tempo.

Tanto em São Paulo quanto Roma as interseções foram redesenhadas. Em Roma incluiram pequenas ilhas no viário, diminuindo assim a exposição do pedestre o tempo e a distância do pedestre no viário, consequentemente aumentando a segurança dos pedestres. Tal como em Roma, em São Paulo ampliou-se os passeios e as novas faixas de segurança tem cerca de 8 metros de comprimentos, as maiores que vi no Brasil.




Aos pouco, bem aos poucos, vamos deixando a visão de que o carro é quem deve ter a preferência. Vamos novamente redesenhando as cidades para que as pessoas possam desfrutar das ruas, dos espaços urbanos.


Para mim é uma loucura pensar em dar prioridade ao carro em interseções. Bem essa minha mudança é recente, até bem pouco tempo eu achava “natural” que os carros é que deveriam ter a preferência sobre nós. Que loucura. O processo de desipnotização é lento e gradual. 
ROMA MUDOU

Estive em Roma – Itália, no início da década de 90, fiquei impressionado com a loucura daquela cidade. As motos, ou melhor, as Vespas estavam por todos os lados, nunca havia visto tantas motos em uma cidade. Fiquei fascinado pela efervescência, pelas italianas lindíssimas, um luxo.

Voltei uns cinco anos depois. Havia acabado de cruzar a França de Oeste para Leste e quando cheguei novamente em Roma, tudo que eu queira era não estar de carro, na minha mente o trânsito era uma zona, me lembrava das motos e sabia que iria ter de tomar muito cuidado para não mandar um romano vespeiro para o solo. Bom, dirigi com muito cuidado nos primeiros minutos, muito cauteloso mesmo, depois entrei no clima e dirigi com todos os romanos.

Vinte anos depois volto a Roma de carro via Nápolis, chego na cidade e deixo as meninas em casa e vou ao aeroporto devolver o carro à locadora, confesso que sabia que o carro seria um estorvo e não quis ficar nem 10 minutos a mais com aquele que me serviu muito bem para cruzar a Itália de Norte a Sul, Leste a Oeste. Mas em Roma, não queria um carro de jeito nenhum.

Alugamos uma casa perto de uma estação de metrô (Furio Camillo) assim seria fácil para se deslocar pela cidade. Além do metrô havia diversos pontos de ônibus nas quadras adjacentes ao apartamento. A conjugação metrô + ônibus seria mais que suficiente para nos deslocarmos pela Cidade Eterna.

Dos ônibus me lembrava que pouquíssimos romanos pagavam passagem. Vinte anos atrás, você comprava o ticket na tabacaria ou numa loja qualquer e entrava no ônibus por qualquer uma das 3 portas, dentro haviam diversos validadores e o próprio passageiro se dirigia a uma dessa validadoras e validava seu ticket. Eu ficava observando as pessoas que entravam no ônibus, raríssimas validavam. Fiquei curioso e perguntei para um camarada o que aconteceria caso não se validasse o bilhete. A explicação foi de que o gaiato que fosse pego teria de pagar uma multa salgadíssima, além de levar um sabão, uma descompostura, um esporro, melhor dizendo. Pelo jeito o crime compensava.


Na minha primeira viagem, no metrô, quando ia saindo da estação, fui interpelado por um fiscal que queria ver meu ticket. Achei muito estranho, piquei pensando que, talvez eu teria de pagar a diferença, visto que eu havia pego o trem na Termini e talvez a cobrança fosse pela distância, sei lá. O Fiscal olhou, conferiu e me devolveu o ticket, perguntei o por que daquela atitude, me disse que era somente rotina. Roma mudou.