Como Groningen tornou-se a cidade
com a maior participação de ciclistas no mundo
com a maior participação de ciclistas no mundo
Groningen, localizado no norte da Holanda, tem sido aclamada como a cidade onde há a maior taxa de ciclismo do mundo. Quase 60% de todas as viagens são feitas por bicicleta na cidade.
Em 1964, Groningen era cidade era pequena. Não havia nenhum
tipo de restrições à circulação de carros pelo centro da cidade e havia pouquíssimas
ciclovias (figura 1). Naquela época o motorista era o principal ator, o restante era
coadjuvante na dança da mobilidade. Mesmo na Holanda, entre 1950 e
1960, ciclovias foram removidas com o propósito de se ganhar mais espaço para
os carros - hoje conhecidos como devoradores
de espaços urbanos.
Figura 1 - Configuração espacial e sistema viário
As cidades brasileiras ainda se encontram na fase
pré-Groningen, desapropriando casas, terrenos, parques para que novas avenidas
sejam feitas ou para que se dupliquem faixas de tráfego. Estacionamentos na
lateral da via são removidos e transformados e faixas de circulação para que assim
se aumente a capacidade viária, tudo em nome da fluidez e da tentativa de diminuição
dos congestionamentos.
Assim como em várias cidades do mundo a construção de amplas
avenidas também ocorreu em Groningen (Figura 2).
Figura 2 - Grandes avenidas construídas na fase anterior a política em pról da mobilidade em bicicletas
Foram construídas avenidas que cruzavam de norte a sul e leste a oeste. No entanto, em 1972, um novo governo local mudou a ênfase do planejamento urbano em Groningen. O centro da cidade foi escolhido para ser a "sala de estar" e o urbanismo foi integrado com a política de transportes. A cidade foi projetada para continuar compacta.
Em 1980 a cidade tinha crescido consideravelmente e as novas
habitações haviam sido construídas na periferia. Houve a construção de um anel
viário em torno da cidade, mas o acesso ao centro da cidade de carro foi reduzido. A construção de ciclovias de alta qualidade continuou por todo o período em questão (figura 3).
Figura 3 - Configuração espacial e sistema viário
Em 2006, a cidade cresceu um pouco mais e os carros foram empurrados
ainda mais para fora do centro da cidade. A cidade está agora dividida em
quatro grandes “quadras”, entre as quais é impossível dirigir diretamente entre
elas, todo o tráfego é direcionado para o anel viário e depois reconduzido de
volta. Enquanto se congelava a construção de novas vias, ciclovias começavam a
ser construídas por toda cidade.
Atualmente a única maneira possível de se cruzar o centro
das cidade de maneira linear e direta é através da bicicleta, caso alguém
queira cruzá-la de carro terá de fazer muitas voltas, nunca poderá dirigir em
linha reta e encontrará muitas ruas fechada à circulação de carros (figuras 4 e 5).
Filme 1 - A transformação de Groningen
Groningen tem 84.000 casas, 38% dos quais foram construídos
depois de 1970. 180 mil pessoas vivem
nessas casas, e eles possuem 71 mil carros e 300 mil bicicletas. Há 0,4 carros
e motos por 1,7 por pessoa.
Setenta e oito por cento dos residentes vivem em um raio de
3 km a partir do centro da cidade. 90% dos trabalhadores vivem cerca de 3 km do
centro da cidade. Essas distâncias curtas ajudam a fazer do ciclismo um modo
viável de transporte para a maioria das viagens, mas Groningen não tem uma densidade
populacional elevada para os padrões mundiais. Na verdade, Groningen é muito
menos densamente povoada do que muitas cidades de outros países com menos de
ciclismo.
Não é só Groningen que tem seguido essas políticas públicas em favor de uma mobilidade mais sustentável. A
maioria, se não todas as cidades holandesas tem perseguido as políticas de privilégio às bicicletas e o desenho urbano.
Modo geral, é bem possível aumentar as viagens por bicicleta através da integração do sistema viário, do desenho urbano e uso do solo. No entanto, é preciso que o Estado interfira em favor de uma mobilidade urbana que privilegie modos de transporte menos poluentes e mais ecologicamente sustentáveis. Os feitos em Groningen ocorreram somente devido a política deliberada de exclusão os carros
do centro da cidade (uma forma de segregação sem ciclovias), enquanto forneciam
uma infraestrutura cicloviária de alta qualidade e livre de carros entre a
periferia e o centro da cidade.
Groningen é uma cidade universitária, o que leva a cidade
ter a menor média de idade populacional em comparação a outras cidades holandesas. Existem cerca de 50 mil estudantes em uma
cidade de 180 mil pessoas. Este fator, claro, também aumenta o nível de
ciclismo. No entanto, devido ao desenho da cidade, até mesmo os alunos em
Groningen tendem a pedalar mais do que os estudantes em qualquer outro lugar do
mundo.
A escolha modal é fruta de políticas diversas de incentivo e desincentivo aos diversos modos de transporte. Assim como não escolhemos os tipos de alimentos, música, vestimentas etc. que hoje desfrutamos, pois estes nos são impostos pelos costumes e idiossincrasias da sociedade em que habitamos, os transportes também não os escolhemos, são sim frutos de políticas impostas, as quais privilegiam ou inibem determinados meios de transportes.
Cidades holandesas fizeram um favor a humanidade e ao urbanismo ao mostrar que podemos transformar tanto a mobilidade quanto a conformação das cidades através do uso de políticas públicas de planejamento dos transportes, uso do solo e moradias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário