segunda-feira, 13 de outubro de 2014

PASSAGEM SUBTERRÂNEAS PARA PEDESTRES

O Mappin era uma loja que me fascinava, era um mundo, uma só loja com vários andares, diversidade de produtos, coisa chic. Estou falando dos anos 70, quando íamos lá com meu pai e meus irmãos aos sábados.

Como morávamos em Taubaté, 120 km de distância de São Paulo, os sábados eram realmente diferentes, os domingos não. Tudo em São Paulo era diferente, era o moderno, era o que as cidades seriam. São José dos Campos, cidade localizada no Vale do Paraíba, entre São Paulo e Taubaté, tinha um cartaz enorme com a foto da cidade de São Paulo com os seguintes dizeres: SEGUINDO OS PASSOS DO GIGANTE. Tudo acontecia em São Paulo, o que você quisesse achar, se tivesse no Brasil, você acharia em São Paulo. Hoje, com internet, até na Rebimboca da Parafuseta, Cabróbro ou Jucurutu você encontra o que quiser, é só entrar no ebay e voilà.
  
Lembro de que uma vez saímos do Mappin, caminhamos um pouquinho na calçada e começamos a descer umas escadas, era diferente, bonito, o contraste do mármore e do ferro fundido, caminhamos um pouco, subimos alguns degraus e lá estávamos, sãos e salvos, do outro lado da rua. Quis fazer essa travessia algumas vezes mais, o que custou uma bronca, ou um deixa isso para lá garoto.


Passagem de nível para pedestres  - Antiga loja Mappin (http://www.panoramio.com/photo/81624819)

Outra passagem de nível para pedestres que usei em São Paulo foi a da Avenida Consoloção, esquina com a Av. Paulista. Essa passagem eu usava as vezes no começo dos anos 2000 quando queria pegar um ônibus ou simplesmente caminhar. Lembro da galeria, dos sebos, do cheiro de mofo, nada como a antiga passagem do Mappin. O que a idade não faz com a percepção, agora entendo meu pai.

Atravessei algumas vezes a passagem da Consolação para ver se ganhava algum tempo, pois o tempo semafórico era extremamente demorado para pedestres. Depois de algum tempo desisti dessa corrida pelo tempo, os degraus, alguns estreitos demais, eram quase que uma armadilha. A incerteza de se entrar num “tunel” em cidades brasileiras e dar de cara com alguém mau encarado não é animador. Bom, desisti da passagem de nível para pedestres. Não fui só eu quem desistiu, parece que os romano também desistiram.  

Tinhamos visitado o Coliseu e estamos caminhando pelas ruas de Roma, sem destino, apenas procurando uma cantina quanto me deparo com uma dessas famigeradas passagem de nível para pedestres. Tive de parar, observar e tirar uma fotos. Bom, o que observei; níngém, como em São Paulo, vai por baixo da terra, níngém é mais tatu para ficar entrando nos buracos. Não é lógico forçar as pessoas que gastam sua própria energia vencer diferentes gradientes para se chegar ao mesmo ponto no plano. Os italianos, como os paulistanos, preferem ir por cima, sem gastar sua preciosa energia e sem perder tempo.

Tanto em São Paulo quanto Roma as interseções foram redesenhadas. Em Roma incluiram pequenas ilhas no viário, diminuindo assim a exposição do pedestre o tempo e a distância do pedestre no viário, consequentemente aumentando a segurança dos pedestres. Tal como em Roma, em São Paulo ampliou-se os passeios e as novas faixas de segurança tem cerca de 8 metros de comprimentos, as maiores que vi no Brasil.




Aos pouco, bem aos poucos, vamos deixando a visão de que o carro é quem deve ter a preferência. Vamos novamente redesenhando as cidades para que as pessoas possam desfrutar das ruas, dos espaços urbanos.


Para mim é uma loucura pensar em dar prioridade ao carro em interseções. Bem essa minha mudança é recente, até bem pouco tempo eu achava “natural” que os carros é que deveriam ter a preferência sobre nós. Que loucura. O processo de desipnotização é lento e gradual. 

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